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O termo “letramento”, ainda hoje, é entendido, equivocadamente, como um fenômeno homogêneo, segundo o qual se lê e se escreve de uma única maneira, independentemente da situação comunicativa. Ser letrado, nessa perspectiva reducionista, significa dominar o código escrito, de modo que os sujeitos o utilizem conforme lhes foi instruído na escola, a partir de um conjunto de atividades específicas desse domínio.

Todavia, ainda que a instituição escolar represente a mais importante agência de letramento, dado o seu papel formal no ensino de leitura e escrita, múltiplas práticas de letramento são mobilizadas em diferentes esferas discursivas (profissional, familiar, acadêmica, religiosa, midiática, laboral, por exemplo, além da escolar) e sistemas semióticos. Nessa perspectiva, diversificados são os modos de utilização da escrita, vista como uma prática sociocultural, multifacetada e historicamente situada.

O letramento apresenta, de fato, uma natureza plural, como já observado por vários pesquisadores (BARTON; HAMILTON; IVANIC, 2000; STREET, 2003; OLIVEIRA; KLEIMAN, 2008; ROJO, 2009), sendo as práticas escolares apenas uma de suas manifestações. Em consonância, ainda, com esse ponto, existem “mundos de letramento” diferentes (BARTON, 2000) que, em virtude das relações desiguais de poder, podem ser dominantes (visíveis, legítimos), quando atrelados a instituições de elevado prestígio social, ou vernaculares (silenciados, ilegítimos), quando imersos em ambientes informais, o que permite abrir ou fechar portas de “acesso” (inclusão/exclusão) a culturas letradas.

 

Atenta às constantes mudanças pelas quais passa o mundo contemporâneo, a área de Estudos de Letramento assume, hoje em dia, uma abordagem sociocultural, a fim de melhor compreender o funcionamento da linguagem em suas mais diferentes manifestações. Em oposição às perspectivas linguísticas que desconsideram a linguagem em uso, os Estudos de Letramento, na atualidade, propõem que a leitura e a escrita devam ser pensadas em consonância com as relações sociais, os modelos culturais, a distribuição de poder, os valores e as atitudes (GEE, 2008).

É necessário, nesse sentido, discutir os letramentos como um fator-chave para o desenvolvimento sustentável nas sociedades, vislumbrando-os na interface com as tecnologias, os processos econômicos e políticos (globalização, capitalismo), os sistemas de produtividade e desenvolvimento, os direitos humanos, entre outros aspectos.

Sendo, pois, o letramento uma prática sociocultural e ideológica que impacta na sociedade, graças a seu potencial de empoderamento, torna-se necessário pensar eventos científicos que, a partir das discussões, vislumbrem políticas públicas no cenário educacional e apontem perspectivas de transformação social. Torna-se imperativo, nessa direção, dar atenção, também, ao letramento do professor, oferecendo-lhe uma formação, teoricamente informada, que o capacite a desempenhar, com desenvoltura, a função de agente de letramento (KLEIMAN, 2006; OLIVEIRA, 2010) na construção da competência leitora e escritora dos aprendizes de língua.

Refletir sobre os letramentos consiste, assim, em lidar com uma realidade social complexa e dinâmica, marcada pelo estreitamento de fronteiras e pela negociação cultural. Por essa razão, buscamos, com este evento, reunir pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento e linhas de estudo, a fim de que, juntos, possam discutir e compreender, de modo substancial, o mundo letrado.

Este evento contribuirá para entender como se usa e se percebe os letramentos nos mais diferentes contextos culturais, na tentativa de explorar as possíveis articulações existentes entre eles e as suas implicações para o ensino-aprendizagem da leitura e da escrita no mundo contemporâneo.

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